domingo, 24 de agosto de 2014

Não. Não estou à venda!


Não!
Não podes comprar amor e carinho, não estou à venda!

Há quem pense que pode comprar tudo com dinheiro.
Estamos a mais de dois milénios à frente de qualquer outro animal e ainda não compreendemos as coisas simples da vida. Achamos que podemos fazer tudo com dinheiro, com bens materiais. Mas estamos errados. Tão errados. Como sempre.
Podia ter uma vida melhor? Desafogada. 
Podia ter uma casa maior, um emprego decente e um ordenado equivalente?
Podia ter uma casa rodeada de "amigos", jantaradas animadas (pagas por mim), ir para onde me apetecesse quando me apetecesse?
Podia ter uns pais cheios de orgulho em mim?
Podia ter uma irmã que enchesse o peito para falar de mim, que desse o corpo ao manifesto ou um pacote de arroz para me tirar deste inferno em que vivo?
Podia ser emigrante e receber mais num part-time do que em média um casal português recebe num mês de trabalho, mais subsídios e uma casa à altura das minhas expectativas?
Podia ser Pai e Mãe, ter duas casas pagas, mais dinheiro para comprar mais duas e ajudar os meus filhos porque eles até precisam?
Podia ter amigos suficientes para contar as minhas mágoas, desabafar, abraçar, chorar num ombro amigo, dizer que gostava de desaparecer por momentos até tudo ficar melhor?
Podia comprar carinho e amor com meia dúzia de tostões?

Bem, com mais dinheiro podia ter uma vida melhor, mas será que estaria satisfeito? Será que fazia aquilo que realmente gosto em me dá prazer? Seria inequivocamente difícil.
Podia ter uma casa maior, um emprego melhor e um ordenado decente, mas será que estaria em pleno com a vida?
Podia ter uns pais cheios de orgulho se eles não fossem mentes capto e ligassem menos ao que os outros dizem, se realmente fossem Pai e Mãe. Pais não deixam passar fome, passar sede, pais gostam de se sentir úteis, nem que seja apenas para perguntar: "Está tudo bem? "Precisas de alguma coisa?". Pais não guardam o dinheiro para "Mais tarde", não compram casas para depois dizerem: "Vais casar? Logo agora. Não me dá muito jeito, compramos agora uma casa" Pais não deixam o dinheiro no banco quando os filhos comem em casa massa com massa, arroz com arroz, ou latas de feijão.
Podia ter uma irmã? Se fizesse como antigamente, convidando-a para jantar, almoçar, lanchar, para ela desabafar as suas maluquices ou problemas do trabalho, se a abraçasse, se lhe dissesse o quanto a amava e que estaria sempre aqui para o que quer que fosse...tirando isso...não me recordo da última vez que me perguntou: "Estás bem?" "Precisas de alguma coisa?" ou que me disse: "Não te preocupes, eu estou aqui, como estiveste para mim!".
Podia ser emigrante e receber em part-time do que recebo agora em dois meses e meio de trabalho, mais subsídios, mais uma vida confortável cheia de caprichos e vícios e uma casa cheia para receber os "Outros"? Podia, mas não é fugir dos problemas que eles vão desaparecer, não é mudar de vida que muda quem somos, o que realmente somos e o que deixamos para trás.

Não é um telefonema que faz de mim melhor ou pior pessoa, mais ou menos capaz do que quer que seja, mais ou menos presente. Não é uma carta, um postal que faz de mim família, nem é uma lembrança que faz de mim mais saudosista.

Podia ter amigos para abraçar de verdade e dizer que não têm sido fáceis estes últimos dois anos e meio, que tantas vezes queria ter um ombro para chorar, uma mão para me ajudar a levantar, alguém para me ouvir. Se podia?...podia, mas estão todos ocupados e preocupados a olhar para o seu umbigo e agora não lhes dá jeito, porque com eles está tudo bem...agora!
Podia ter a casa cheia gente, com uma mesa farta, mas agora só tenho massa, arroz e feijão e o que está na moda é o Sushi.
Podia comprar carinho ou amor com meia dúzia de tostões? 

NÃO OBRIGADO, NÃO ESTOU À VENDA!

 

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