segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Mais um texto! Hoje um pouco sentimentalão



E depois acabou. Ficou em mim apenas a vontade de estar novamente contigo. De te querer. De te beijar novamente na face, ou quem sabe na boca. Adormecer novamente. Do lado, caem-me dormentes os meus braços. Estou só, sem ti. Estou só, sem mim. Porque quando adormeço não sou eu, mas a cidade que dorme lá fora. Eu nunca durmo. Eu nunca sonho. O que sonha é o meu corpo que está cansado de mim. Cansado do mundo. Depois acabou. A noite fugiu com a Lua e o Sol está de pé. Assim estou eu. O meu corpo ainda descansa e tento reanimá-lo. É como se não me ouvisse. É como que se me ignorasse. Ele sabe que eu tenho ânsia de te ter novamente, e então ignora-me. Ele sabe que quando te vir novamente ao longe, vai sofrer. Vai sentir um aperto no peito. O meu corpo. Ele sabe que vai querer maltratar-se, que vai querer mutilar-se até e, por isso ignora-me. Volto a chamá-lo. Tento despertá-lo. Grito num silêncio tal que ensurdeço por instantes. Eu. O meu corpo continua a ignorar-me. Há pessoas no quarto. Demasiadas. Grito novamente. Quero voltar ao meu corpo. Quero ser eu novamente. Quero fazer coisas que nunca fiz. Desafiar a vida, o mundo. Quero beijar outras pessoas. Quero abraçar outras pessoas. Quero dizer que te amo mais uma vez. Quero dizer-te que não me mereces. Quero ser eu.

- Estás a ouvir-me? Porque me ignoras? Sou apenas eu.
Há gritos. Há lágrimas. Há toques no meu corpo dormente. Há uma ânsia e te ter novamente.
Depois acabou.


Miguel Gonçalves

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