sábado, 3 de agosto de 2013

Estado d'alma


Sentei-me na orla de um rochedo em frente ao mar de uma praia perto da minha casa, fazia tempo que não me debroçava sobre a minha vida, fazia tempo que não fazia uma introspecção daquilo que fui e do que sou hoje, por isso vim até aqui, até a praia, ouvir o rebentamento das ondas e sentir a maresia tocar na minha cara, o cheiro do mar, a areia fina nos meus pés e a água fria que se arrasta e leva consigo memórias do passado, nostálgias, estados de alma e sentimentos dos quais jamais abdicarei, apenas gosto de recordá-los aqui, junto desta praia, onde tudo começou...

Quando era pequenino, meu pai gostava de se sentar na praia, a seu lado eu ouvia histórias de encantar, com o tempo, percebi que tinha algum significado tê-lo feito, ali tudo era bem mais calmo, tudo era bem mais puro, havia paz, num outro local qualquer talvez as histórias talvez não tivessem a mesma profundidade, o mesmo objectivo, chegar ao meu coração, mas aqui eu vivia-as, eu sentia-as, era como se tivesse a ver um filme a cores, tudo ganhava forma...

O mar envolve-nos, torna-nos vulneráveis, por isso é que é imenso e absoluto, por isso é que o que leva jamais devolve, e as histórias contadas sobre si, são as que perduram na eternidade, são as que nos tocam no fundo, as que fazem cartazes de cinema durante anos...o mar, quando lhe falamos, torna-se nosso confidente, melhor do que um amigo que nem sempre nos compreende, que nos critica, e que nem sabe o que dizer quando o que queremos ouvir é apenas o silêncio...

É por isso, que mesmo sem vir para perto do mar, ele sempre me trouxe as melhores recordções...

Estranho ainda hoje pensar em todos os momentos, todas as memórias e todas as histórias que hoje conto e que vivi no passado...

Lembro daquela vez, como se fosse ontem...

Levei-te a jantar fora naquele restaurante no Marquês de Pombal, tu adoras-te aquele vinho, e dizias que eu era muito calado, tocavas na minha mão de propósito para me sentir desconfortável e sabias que no fundo eu jamais faria ou tentaria algo que não tivesses à espera, e isso tornava-te invulnerável, mas, eu tinha as minhas cartas na manga...

Após jantar, pedis-te um vinho do Porto e disseste que te envolvia, que era como uma peça de veludo caro que se vestia apenas em alturas festivas ou requintadas, assim era a bebida, envolvente e sedutora...assim também eras tu, sempre sorridente, sempre com uma graça para animar seja quem for, irrequieta, extrovertida, sensual, atraente, formosa, elegante e dona de um olhar vislumbrante...

Depois, pedi tua mão e dançámos, daçámos como se o tempo pará-se, como se o mundo não existisse, como se o amanhã não viesse e hoje fosse a última noite do resto das nossas vidas...e era tão bom sentir o teu cheiro, o teu perfume, a tua pele macia, as nossas faces coladas, tuas mãos em volta do meu pescoço e as minhas, ora em tua cintura, ora a subir pelas tuas costas como uma massagem ou um arrepio; e dançávamos para esquecermos quem eramos e porque estávamos alí, diante um do outro, com os olhos a beijarem-se sem que os lábios se tocássem...dançávamos e dançávamos...

Quando delicadamente nos disseram que ia fechar o restaurante, fiquei com a impressão que não querias que acabasse, pelo menos assim, desta maneira. Foi então que te convidei docemente para vires comigo, que ia levar-te a um sitio encantado, onde o tempo não pára, mas corre bem mais devagar, ao que tu me respondes-te, sem precisares falar, com um sim, os teus lábios estavam agora mais doces, mais sensíveis, mais descobertos aos prazeres e aos desprazeres da vida...

Fomos então até a praia, precisamente até aqui, onde estou neste momento sentado, estava escuro naquela noite, a lua coberta, mas dava para ver um pouco do seu reflexo no mar, e o rebentamento do mesmo na areia fina da praia que nos rodeava...estavamos sós, apenas o mar era nosso confidente...caminhámos durante quase meia hora, e depois sentamo-nos perto da água, deitas-te tua cabeça sobre meu ombro, eu tirei meu casaco e cobri-te os ombros descobertos, depois minha mão foi de encontro a tua que me deste sem hesitar. Disseste que era lindo estar assim a ouvir o mar, agarrada a mim, liberta de todos os problemas que te assombravam, do mundo, rodeada de tanta paz e harmonia...eu disse-te que costumava vir aqui muitas vezes, desabafar com o mar, conversar com ele, disse-te que ele era meu confidente, e quando menos esperei tua mão apertou a minha e teus lábios tocaram os meus num desejo apertado, nossas línguas entrelaçaram-se e parecia cena de novela, minhas mãos em teu corpo, a subir tua cintura, as tuas dentro da minha blusa, nas minhas costas, os beijos cada vez mais quentes e sofucantes, respiração ofegante, corpos meio despidos já no chão...disseste que tinhas medo do que fosse acontecer, e eu apaziguei-te dizendo, que nada mais do que tu quisesses, nada mais. Então minhas mãos num toque suave percorreram todo teu corpo excitado a pedir pelo meu, e minha boca saciava teus desejos carnais antes de antigires o climax, depois entrei nesse teu mundo, quente, sedutor, e perdi-me, deixei-me perder, durante horas ambos estivemos perdidos, mas sem nunca querer chegar algum lado, sem querer alcançar nenhuma meta, pois o tempo tinha parado a nossa volta...

Teu corpo sobre meu peito, carícias de satisfação, uma explosão de sentimentos num flash de fotografia que aparece e depressa se vai...

A madrugada chega, e nossos corpos aquecem-se um ao outro, no horizonte o Sol da manhã, num laranja misturado com azul escuro da noite que nos abraçou...a água está mais longe do que antes, e daqui nada são horas de ir para o trabalho...acordo-te com um beijo e um suspiro, e tu dizes que não queres acordar, que estavas a sonhar, e que estava tão bom que não queres acordar. Sabias que ias voltar a monotonia, a rotina de sempre e isso desgastava-te e deixava-te desmotivada fosse para o que fosse...depois...depois foi assim...despedimo-nos com um beijo sincero, prometendo um dia voltar, um dia, ao acaso, encontrarmo-nos em frente ao mar nesta mesma praia e relembrar a noite mágica e maravilhosa que vivemos...

Estranho ainda hoje pensar em todos os momentos, todas as memórias e todas as histórias que hoje conto e que vivi no passado...

Quando era pequenino, meu pai gostava de se sentar na praia, a seu lado eu ouvia histórias de encantar...

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