Sentei-me
na orla de um rochedo em frente ao mar de uma praia perto da minha
casa, fazia tempo que não me debroçava sobre a minha vida, fazia tempo
que não fazia uma introspecção daquilo que fui e do que sou hoje, por
isso vim até aqui, até a praia, ouvir o rebentamento das ondas e sentir a
maresia tocar na minha cara, o cheiro do mar, a areia fina nos meus pés
e a água fria que se arrasta e leva consigo memórias do passado,
nostálgias, estados de alma e sentimentos dos quais jamais abdicarei,
apenas gosto de recordá-los aqui, junto desta praia, onde tudo
começou...
Quando era pequenino, meu pai gostava de se sentar na praia, a seu lado eu ouvia histórias
de encantar, com o tempo, percebi que tinha algum significado tê-lo
feito, ali tudo era bem mais calmo, tudo era bem mais puro, havia paz,
num outro local qualquer talvez as histórias talvez não tivessem a mesma
profundidade, o mesmo objectivo, chegar ao meu coração, mas aqui eu
vivia-as, eu sentia-as, era como se tivesse a ver um filme a cores, tudo
ganhava forma...
O
mar envolve-nos, torna-nos vulneráveis, por isso é que é imenso e
absoluto, por isso é que o que leva jamais devolve, e as histórias
contadas sobre si, são as que perduram na eternidade, são as que nos
tocam no fundo, as que fazem cartazes de cinema durante anos...o mar,
quando lhe falamos, torna-se nosso confidente, melhor do que um amigo
que nem sempre nos compreende, que nos critica, e que nem sabe o que
dizer quando o que queremos ouvir é apenas o silêncio...
É por isso, que mesmo sem vir para perto do mar, ele sempre me trouxe as melhores recordções...
Estranho ainda hoje pensar em todos os momentos, todas as memórias e todas as histórias que hoje conto e que vivi no passado...
Lembro daquela vez, como se fosse ontem...
Levei-te
a jantar fora naquele restaurante no Marquês de Pombal, tu adoras-te
aquele vinho, e dizias que eu era muito calado, tocavas na minha mão de
propósito para me sentir desconfortável e sabias que no fundo eu jamais
faria ou tentaria algo que não tivesses à espera, e isso tornava-te
invulnerável, mas, eu tinha as minhas cartas na manga...
Após jantar,
pedis-te um vinho do Porto e disseste que te envolvia, que era como uma
peça de veludo caro que se vestia apenas em alturas festivas ou
requintadas, assim era a bebida, envolvente e sedutora...assim também
eras tu, sempre sorridente, sempre com uma graça para animar seja quem
for, irrequieta, extrovertida, sensual, atraente, formosa, elegante e
dona de um olhar vislumbrante...
Depois, pedi tua mão e dançámos, daçámos como se o tempo pará-se, como
se o mundo não existisse, como se o amanhã não viesse e hoje fosse a
última noite do resto das nossas vidas...e era tão bom sentir o teu
cheiro, o teu perfume, a tua pele macia, as nossas faces coladas, tuas
mãos em volta do meu pescoço e as minhas, ora em tua cintura, ora a
subir pelas tuas costas como uma massagem ou um arrepio; e dançávamos
para esquecermos quem eramos e porque estávamos alí, diante um do outro,
com os olhos a beijarem-se sem que os lábios se tocássem...dançávamos e
dançávamos...
Quando
delicadamente nos disseram que ia fechar o restaurante, fiquei com a
impressão que não querias que acabasse, pelo menos assim, desta maneira.
Foi então que te convidei docemente para vires comigo, que ia levar-te a
um sitio encantado, onde o tempo não pára, mas corre bem mais devagar,
ao que tu me respondes-te, sem precisares falar, com um sim, os teus
lábios estavam agora mais doces, mais sensíveis, mais descobertos aos
prazeres e aos desprazeres da vida...
Fomos
então até a praia, precisamente até aqui, onde estou neste momento
sentado, estava escuro naquela noite, a lua coberta, mas dava para ver
um pouco do seu reflexo no mar, e o rebentamento do mesmo na areia fina
da praia que nos rodeava...estavamos sós, apenas o mar era nosso
confidente...caminhámos durante quase meia hora, e depois sentamo-nos
perto da água, deitas-te tua cabeça sobre meu ombro, eu tirei meu casaco
e cobri-te os ombros descobertos, depois minha mão foi de encontro a
tua que me deste sem hesitar. Disseste que era lindo estar assim a ouvir
o mar, agarrada a mim, liberta de todos os problemas que te
assombravam, do mundo, rodeada de tanta paz e harmonia...eu disse-te que
costumava vir aqui muitas vezes, desabafar com o mar, conversar com
ele, disse-te que ele era meu confidente, e quando menos esperei tua mão
apertou a minha e teus lábios tocaram os meus num desejo apertado,
nossas línguas entrelaçaram-se e parecia cena de novela, minhas mãos em
teu corpo, a subir tua cintura, as tuas dentro da minha blusa, nas
minhas costas, os beijos cada vez mais quentes e sofucantes, respiração
ofegante, corpos meio despidos já no chão...disseste que tinhas medo do
que fosse acontecer, e eu apaziguei-te dizendo, que nada mais do que tu
quisesses, nada mais. Então minhas mãos num toque suave percorreram todo
teu corpo excitado a pedir pelo meu, e minha
boca saciava teus desejos carnais antes de antigires o climax, depois
entrei nesse teu mundo, quente, sedutor, e perdi-me, deixei-me perder,
durante horas ambos estivemos perdidos, mas sem nunca querer chegar
algum lado, sem querer alcançar nenhuma meta, pois o tempo tinha parado a
nossa volta...
Teu
corpo sobre meu peito, carícias de satisfação, uma explosão de
sentimentos num flash de fotografia que aparece e depressa se vai...
A
madrugada chega, e nossos corpos aquecem-se um ao outro, no horizonte o
Sol da manhã, num laranja misturado com azul escuro da noite que nos
abraçou...a água está mais longe do que antes, e daqui nada são horas de
ir para o trabalho...acordo-te com um beijo e um suspiro, e tu dizes
que não queres acordar, que estavas a sonhar, e que estava tão bom que
não queres acordar. Sabias que ias voltar a monotonia, a rotina de
sempre e isso desgastava-te e deixava-te desmotivada fosse para o que
fosse...depois...depois foi assim...despedimo-nos com um beijo sincero,
prometendo um dia voltar, um dia, ao acaso, encontrarmo-nos em frente ao
mar nesta mesma praia e relembrar a noite mágica e maravilhosa que
vivemos...
Estranho ainda hoje pensar em todos os momentos, todas as memórias e todas as histórias que hoje conto e que vivi no passado...
Quando era pequenino, meu pai gostava de se sentar na praia, a seu lado eu ouvia histórias de encantar...
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