domingo, 4 de agosto de 2013

Era urgente o amor



Li uma vez um anúncio que estava num placard, enquanto passava na estrada, que dizia, “era urgente o amor”. Claro que existem inúmeras maneiras de interpretar este slogan e muita gente já o deve ter feito enquanto ali passava. O que é certo, é que o mesmo me passou despercebido, até um dia... um dia, não há muito tempo, escrevi algo sobre ele, e sabes,  só agora me ocorreu novamente na minha mente inconsciente, “porquê?”
Pensei imenso tempo na pergunta até deixar de ter qualquer sentido, porque a pergunta não era “porquê” mas sim, “será”, e porquê, perguntas tu confusa.
Quando eu era criança, tinha uma certa facilidade em me apaixonar, criando sempre falsas expectativas sobre a pessoa que idolatrava naquele momento, depois rapidamente me desiludia e ficava imenso tempo triste e vazio, só, só com a minha melancolia.
Com o tempo fui percebendo que não nos devemos entregar por inteiro, devemos primeiro tentar tomar partido e só depois dar a entender os nossos sentimentos para com essa pessoa, se sentirmos que é com ela que queremos caminhar na mesma estrada. Então devemos perguntar se ela nos quer dar a mão, para não cambalearmos, para nos sentirmos seguros e vitoriosos da nossa decisão.
Mas com o tempo a passar, avançar nas nossas vidas, também os sentimentos ficaram diferentes, mais maduros e verdadeiros...eu tinha medo de amar, porque tinha medo de não ser amado, tinha medo de não ser correspondido, mas se não amarmos, se não amarmos, jamais saberemos se seremos ou não bem ou mal amados... então procurei ajuda, junto de amigos e amigas, livros, romances vários e poesias sobre como era o amor, tudo para chegar apenas a uma conclusão, uma conclusão final, a uma conclusão que eu queria que fosse aquela que me trouxesse alegria e a felicidade que tanto esperava.
Durante anos andei enganado sobre o amor, pensei que tivesse romantismo e poesia, pensei que fosse mágico, quase perfeito, fantasia, pensei que pudesse voar bem alto, gritar nos céus infinitos e dizer às estrelas que é bom amar, mas... é um engano!



É um engano, pensar que sabemos o que é o amor.



Certo dia, conheci uma rapariga, morena, estrutura média, cabelos longos, meio encaracolados, de olhos escuros e um sorriso singelo, conheci-a e fiquei vislumbrado com tanta formosura; pensei logo na hora, estou amar... estava apaixonado; é um erro  confudir a paixão com amor, as pessoas pensarem que amam, quando a paixão é que os move, quando os corpos excitados não são mais do que animais famintos em época  de pouca fertilidade ou reduzida caça, e depois... depois transborda, como a água da nascente que banha os rios adjacentes... e tudo cessa num piscar de olhos... um engano pensar que é amor, quando não conhecemos o seu significado.
Depois de vários encontros, ela sorriu para mim, sorriu e perguntou envergonhada, “o que é isto entre nós”; eu, pensei um pouco, antes de dizer asneira e respondi com o coração a palpitar, “não sei o que é, mas é bom”...o tempo voava a cada instante e os nossos encontros começaram a ser mais intensos e demorados, mais descomprometidos com o mundo e com tudo o que girasse em torno do mesmo. As palavras começaram a ser promessas e os gemidos prazer contínuo e eterno do qual o tempo não servia de medida; as mãos agarravam os corpos em ebulição e a paixão tornou-se algo de assustador... para ambos!?
Cheguei a pensar que sim, em tempos, pois raramente falavamos sobre sentimentos, as palavras eram já suor que escorria no corpo ou beijos e desejos que esgotávamos... enfim.
Trocávamos  bilhetes, como na primária, pareciamos duas crianças a viver o primeiro namoro, tudo era belo, pois a paixão prevalecia, os dias transformavam-se em noites, em loucura, em magia.
Mas, meu coração, ele começou a pulsar de maneira diferente, e o que antes eu não ligava, eu não sentia, agora eram como facas que cortavam, afiadas, aguçadas que atravessavam e cortavam, abriam ferida... porque eu não via as coisas dessa perspectiva, porque as olhava mas não sentia nada, porque a paixão não deixa sentir, não deixa falar, reflectir, tudo é belo e maravilhoso, mesmo que não o seja... o coração começou a falar para mim, dizer-me coisas que não queria ouvir, coisas que eu não gostava, coisas que deixei de sentir à muito, deixei de sentir da mesma maneira, fiquei diferente.
As coisas então começaram a perder a graça, o encanto, a magia, a poesia e até os bilhetes se perderam no espaço e no tempo, e o que antes era chuva de Verão, hoje é tempestade de Inverno, e eu não percebia e tu muito menos... tinha que prescutar a minha alma, fazer uma introspecção daquilo que fui e vivi e que agora vivo, mas não sinto, e o que sinto magoa e dói no coração.
Tantas vezes te perguntei se sentias o mesmo, se te sentias diferente, mas mentias dizendo que tavas igual... mentimos um ao outro e durante meses o fizemos, até porque não dava para esconder o que ambos sentíamos um pelo outro.
Numa noite, deitada sobre o meu peito disses-te que as coisas estavam diferentes, fui obrigado a concordar contigo; que as coisas tinham perdido o encanto; as lágrimas começaram a cair no meu rosto enquanto falavas para mim, dizias que o que sentias já não tinha tanta intensidade e magia, e que tinhas perdido um pouco de tudo... eu, chorava, a almofada estava já encharcada e tu sobre meu peito. Disse sem hesitar, “Eu Amo-te”, disse que te amava, que te idolatrava e que eras tudo para mim, que a minha vida sem ti não fazia qualquer sentido e qualquer que fosse a direção que eu tomasse, o labirinto que escolhesse, todos iriam dar ao mesmo, ao mesmo marco, que eras tu.
Foi nessa noite que percebi o que era amar, o que era realmente o amor, amar alguém, o verdadeiro sentimento, que nos seduz, que nos fere, que nos queima por dentro, o verdadeiro sentido da palavra amor, e o sentido figurado daquele slogan que vi um dia num placard quando passava na estrada, que dizia:







“ERA URGENTE O AMOR”

03-07-07

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