Li uma vez um anúncio que estava num placard, enquanto
passava na estrada, que dizia, “era urgente o amor”. Claro que existem inúmeras
maneiras de interpretar este slogan e muita gente já o deve ter feito enquanto ali
passava. O que é certo, é que o mesmo me passou despercebido, até um dia... um
dia, não há muito tempo, escrevi algo sobre ele, e sabes, só agora me ocorreu novamente na minha mente
inconsciente, “porquê?”
Pensei imenso tempo na pergunta até deixar de ter qualquer
sentido, porque a pergunta não era “porquê” mas sim, “será”, e porquê,
perguntas tu confusa.
Quando eu era criança, tinha uma certa facilidade em me
apaixonar, criando sempre falsas expectativas sobre a pessoa que idolatrava
naquele momento, depois rapidamente me desiludia e ficava imenso tempo triste e
vazio, só, só com a minha melancolia.
Com o tempo fui percebendo que não nos devemos entregar por
inteiro, devemos primeiro tentar tomar partido e só depois dar a entender os
nossos sentimentos para com essa pessoa, se sentirmos que é com ela que
queremos caminhar na mesma estrada. Então devemos perguntar se ela nos quer dar
a mão, para não cambalearmos, para nos sentirmos seguros e vitoriosos da nossa
decisão.
Mas com o tempo a passar, avançar nas nossas vidas, também os
sentimentos ficaram diferentes, mais maduros e verdadeiros...eu tinha medo de
amar, porque tinha medo de não ser amado, tinha medo de não ser correspondido,
mas se não amarmos, se não amarmos, jamais saberemos se seremos ou não bem ou
mal amados... então procurei ajuda, junto de amigos e amigas, livros, romances
vários e poesias sobre como era o amor, tudo para chegar apenas a uma
conclusão, uma conclusão final, a uma conclusão que eu queria que fosse aquela
que me trouxesse alegria e a felicidade que tanto esperava.
Durante anos andei enganado sobre o amor, pensei que tivesse
romantismo e poesia, pensei que fosse mágico, quase perfeito, fantasia, pensei
que pudesse voar bem alto, gritar nos céus infinitos e dizer às estrelas que é
bom amar, mas... é um engano!
É um engano, pensar que sabemos o que é o amor.
Certo dia, conheci uma rapariga, morena, estrutura média,
cabelos longos, meio encaracolados, de olhos escuros e um sorriso singelo,
conheci-a e fiquei vislumbrado com tanta formosura; pensei logo na hora, estou
amar... estava apaixonado; é um erro
confudir a paixão com amor, as pessoas pensarem que amam, quando a
paixão é que os move, quando os corpos excitados não são mais do que animais
famintos em época de pouca fertilidade
ou reduzida caça, e depois... depois transborda, como a água da nascente que
banha os rios adjacentes... e tudo cessa num piscar de olhos... um engano
pensar que é amor, quando não conhecemos o seu significado.
Depois de vários encontros, ela sorriu para mim, sorriu e perguntou
envergonhada, “o que é isto entre nós”; eu, pensei um pouco, antes de dizer
asneira e respondi com o coração a palpitar, “não sei o que é, mas é bom”...o
tempo voava a cada instante e os nossos encontros começaram a ser mais intensos
e demorados, mais descomprometidos com o mundo e com tudo o que girasse em
torno do mesmo. As palavras começaram a ser promessas e os gemidos prazer contínuo
e eterno do qual o tempo não servia de medida; as mãos agarravam os corpos em
ebulição e a paixão tornou-se algo de assustador... para ambos!?
Cheguei a pensar que sim, em tempos, pois raramente falavamos
sobre sentimentos, as palavras eram já suor que escorria no corpo ou beijos e
desejos que esgotávamos... enfim.
Trocávamos bilhetes,
como na primária, pareciamos duas crianças a viver o primeiro namoro, tudo era
belo, pois a paixão prevalecia, os dias transformavam-se em noites, em loucura,
em magia.
Mas, meu coração, ele começou a pulsar de maneira diferente,
e o que antes eu não ligava, eu não sentia, agora eram como facas que cortavam,
afiadas, aguçadas que atravessavam e cortavam, abriam ferida... porque eu não
via as coisas dessa perspectiva, porque as olhava mas não sentia nada, porque a
paixão não deixa sentir, não deixa falar, reflectir, tudo é belo e maravilhoso,
mesmo que não o seja... o coração começou a falar para mim, dizer-me coisas que
não queria ouvir, coisas que eu não gostava, coisas que deixei de sentir à
muito, deixei de sentir da mesma maneira, fiquei diferente.
As coisas então começaram a perder a graça, o encanto, a
magia, a poesia e até os bilhetes se perderam no espaço e no tempo, e o que
antes era chuva de Verão, hoje é tempestade de Inverno, e eu não percebia e tu
muito menos... tinha que prescutar a minha alma, fazer uma introspecção daquilo
que fui e vivi e que agora vivo, mas não sinto, e o que sinto magoa e dói no
coração.
Tantas vezes te perguntei se sentias o mesmo, se te sentias
diferente, mas mentias dizendo que tavas igual... mentimos um ao outro e
durante meses o fizemos, até porque não dava para esconder o que ambos sentíamos
um pelo outro.
Numa noite, deitada sobre o meu peito disses-te que as coisas
estavam diferentes, fui obrigado a concordar contigo; que as coisas tinham
perdido o encanto; as lágrimas começaram a cair no meu rosto enquanto falavas
para mim, dizias que o que sentias já não tinha tanta intensidade e magia, e
que tinhas perdido um pouco de tudo... eu, chorava, a almofada estava já
encharcada e tu sobre meu peito. Disse sem hesitar, “Eu Amo-te”, disse que te
amava, que te idolatrava e que eras tudo para mim, que a minha vida sem ti não
fazia qualquer sentido e qualquer que fosse a direção que eu tomasse, o
labirinto que escolhesse, todos iriam dar ao mesmo, ao mesmo marco, que eras
tu.
Foi nessa noite que percebi o que era amar, o que era
realmente o amor, amar alguém, o verdadeiro sentimento, que nos seduz, que nos
fere, que nos queima por dentro, o verdadeiro sentido da palavra amor, e o
sentido figurado daquele slogan que vi um dia num placard quando passava na
estrada, que dizia:
“ERA URGENTE O AMOR”
03-07-07
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