Sabes quando ficas acordado até tarde porque achas que o que fizeste ou disseste nesse dia não foi o mais acertado?
Sabes quando perdes a direcção ou o rumo das coisas e não sabes qual caminho a percorrer?
Sabes quando achamos que temos o dom da palavra e da razão e deitamos tudo a perder com um gesto ou uma palavra?
Quando queremos ser mais e melhor e tudo o que somos é melhor do que quase nada?
Pois… passei algum tempo obcecado por tantas coisas, que o fardo que hoje transporto comigo é tão pesado, que tenho de partilha-lo, senão vou afundar-me, não vou resistir…
Com a chegada do verão, vieste tu como uma miragem, disseste que sentias saudades, mas sabes o que são saudades?
Saudades é quando temos apenas na memória um momento ou um flash de momentos, dos quais não conseguimos fugir, abstrair e quando pensamos nisso, o coração aperta, bate mais forte, e as lágrimas formam-se quase sempre para mais tarde caírem no nosso rosto…
A família conhecia-se há muitos anos, também nós… é com nostalgia que lembro tempos em que outrora éramos não mais do que duas crianças, sem responsabilidades, sem porquês, tudo era tão puro e verdadeiro…
Mas o tempo nunca parou, nunca voltou atrás, nem tu… sempre tomaste decisões fossem ou não as mais acertadas, eram aquelas as melhores e as mais justas para ti…
Eu sempre te admirei por isso, nunca fazias nada sem ter certeza de algo… já eu, era um tonto, fazia exactamente o oposto por isso magoava me… mas não foi só em criança que me magoei, também com o tempo me fui magoando, sempre de diferentes maneiras… pena que só agora tenha dado conta, daquilo que fui e do que sou agora… talvez seja exagerado dizer que mudei, mas estou diferente, pelo menos feliz comigo e com o meu estatuto perante esta sociedade hipócrita em que vivemos, que pertencemos e nos perdemos, mais do que alguma vez possamos ganhar para substituir o que irremediavelmente já está perdido…
Entre um jantar, um café ou mesmo um passeio, trocámos ideias, palavras ocas, pouco sinceras, poucos sentimentos…
Mas por mensagem conseguíamos atingir o clímax… porque será que estas coisas virtuais conseguem fazer disto?
Ate as pessoas mais tímidas conseguem montar um cavalo e cruzar fronteiras…
E era assim… tu perguntavas, eu respondia, tu respiravas, eu padecia, era assim que passávamos os dias das férias de verão, sem que um dissesse ao outro o que realmente se passava ou sentia… fosse o que fosse, merecia ser digno de uma palavra, um apreço… mas nada, apenas o silencio perturbador, que me incomodava, ou as respostas que eu ansiava com tanta impaciência que se tornassem apenas reais no sentimento que mutuamente sentíamos um pelo outro, ou seria apenas química, atracção aleatória como a linha de montagem que pára a cada hora que passa? No nosso caso, a cada ano, a cada verão, a cada mensagem trocada… mas a cada mensagem havia uma palavra, um avanço no tempo e no espaço que tu preenchias mesmo sem perceber, e as histórias que te contava, não eram só histórias mas sim segredos que guardava comigo mas que me apeteceu revelar, que durante muito tempo sonhei mas que valia a pena contar, contar a quem merecia ouvir, sentir e repartir… mas só quando eu perdia a esperança de te alcançar é que tu vinhas até mim, para mais uma vez, acenderes aquela chama que estava quase extinta no meu coração, e tu sabias como fazê-lo… perguntava porquê??
Mas a pergunta é outra… “para quê??”, para te sentires amada, mimada, acarinhada e nada mais… eu queria ser mais que um amigo, mas tu não entendias, ou fazias que não entendias, “para quê??”
Para ser tudo assim, incerto e inseguro e sempre distante… tão perto e ao mesmo tempo tão longe de ti…
Depois eu ficava novamente na esperança de te conseguir alcançar, dar-te a minha mão e levar-te para um lugar meu e que só entra quem eu quiser.
Depois era assim, ficava apenas a mensagem inacabada, a saudade de no próximo verão nos voltarmos a ver novamente como se fosse a primeira vez… e começava tudo de novo!!!
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